Alpalhão, típica localidade
rural alentejana, de casas caiadas e coloridas fitas que emolduram janelas e
portas, foi a primeira paragem, após deixarmos Belmonte.
A estrada fez-se
debaixo de uma chuva forte, intensa e acompanhada de pujante trovoada.
Ali chegamos, já a tarde fazia caminho, debaixo de um sol
quente, apesar das nuvens, o que nos permitiu um passeio pelas suas ruas e
centro histórico.
Antecedendo uma mais demorada
visita à cidade, onde se deu o milagre das rosas, protagonizado pela Rainha D.
Isabel e o seu esposo, o rei D. Dinis, visitamos o Regimento de Cavalaria 3,
para «matar» saudades de um tempo já longínquo.
Foi nesse Quartel que, no ano
de 1973, fui mobilizado para a guerra colonial na, então, Província da Guiné.
Daí que, sempre que demando o interior do Alentejo, esta cidade prende-me à
história da vida, que sempre gosto de recordar.
A Unidade Militar de Cavalaria
continua ali, como há cerca de 40 anos. Já não com aquele rodopio de tropas que
ali se preparavam para as frentes de combate em África.
Ao contrário, testemunhei,
com tristeza, uma dezena de fardas encostadas, em pose espreguiçada e de ver
passar o tempo.
Numa demonstração da total inutilidade da função!
Mas foi a recepção fria, por parte de um jovem sargento da «Porta de Armas», que me trespassou a alma de uma calafrio agreste e triste.
Numa demonstração da total inutilidade da função!
Mas foi a recepção fria, por parte de um jovem sargento da «Porta de Armas», que me trespassou a alma de uma calafrio agreste e triste.
Este é mais um sinal do quanto
o meu país tem sido relapso e desprezível para os que combateram em África.
Parece querer esconder aquele tempo em que centenas de milhares de jovens foram
obrigados a lutar em nome do princípio político de defesa daquilo que era
considerado território nacional.
É cobarde e sem alma o país
que renega e despreza uma parte da história em que mais sangue e lágrimas
exigiu ao seu povo.
Nas viagens que fiz por essa
Europa fora, são incontáveis os locais de memória e de honra aos militares
tombados no decurso das duas guerras mundiais, do século XX.
Visitei imensos
cemitérios americanos, alemães, ingleses, franceses e de tantos outros países
que diariamente honram os seus heróis, cuidando e venerando os locais onde
foram enterrados.
São estes pequenos gestos que distinguem o carácter de uma nação. Portugal, pelo contrário,
procura esquecer a guerra colonial e os que lutaram nas três frentes na ilusão
de que defendiam o seu país. E são milhares os que por lá ficaram, por entre o
capim, num hediondo aviltamento e infâmia da sua memória.
Estremoz continua cercada por
fortificações do século XVII a abrigar dezenas de igrejas, dois conventos, o
antigo palácio do rei D. Dinis, o museu rural e o museu de arte sacra, entre
outro património histórico. Lá se mantém imponente o castelo, com a sua torre
de menagem, a acolher uma estalagem no seu ventre.
Dali almeja-se uma soberba
vista sobre a cidade esbranquiçada e, mais ao longe, a suave planície
alentejana. Donde não apetece sair.
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