terça-feira, 7 de outubro de 2014

A cidade branca do Alentejo





Alpalhão, típica localidade rural alentejana, de casas caiadas e coloridas fitas que emolduram janelas e portas, foi a primeira paragem, após deixarmos Belmonte. 

A estrada fez-se debaixo de uma chuva forte, intensa e acompanhada de pujante trovoada. 

Mas o destino dessa jornada era Estremoz. 
Ali chegamos, já a tarde fazia caminho, debaixo de um sol quente, apesar das nuvens, o que nos permitiu um passeio pelas suas ruas e centro histórico.

Antecedendo uma mais demorada visita à cidade, onde se deu o milagre das rosas, protagonizado pela Rainha D. Isabel e o seu esposo, o rei D. Dinis, visitamos  o   Regimento   de Cavalaria 3, para «matar» saudades de um tempo já longínquo.

Foi nesse Quartel que, no ano de 1973, fui mobilizado para a guerra colonial na, então, Província da Guiné. 

Daí que, sempre que demando o interior do Alentejo, esta cidade prende-me à história da vida, que sempre gosto de recordar.

A Unidade Militar de Cavalaria continua ali, como há cerca de 40 anos. Já não com aquele rodopio de tropas que ali se preparavam para as frentes de combate em África. 

Ao contrário, testemunhei, com tristeza, uma dezena de fardas encostadas, em pose espreguiçada e de ver passar o tempo.
Numa demonstração da total inutilidade da função!
 
Mas foi a recepção fria, por parte de um jovem sargento da «Porta de Armas», que me trespassou a alma de uma calafrio agreste e triste.

Este é mais um sinal do quanto o meu país tem sido relapso e desprezível para os que combateram em África.

Parece querer esconder aquele tempo em que centenas de milhares de jovens foram obrigados a lutar em nome do princípio político de defesa daquilo que era considerado território nacional.

É cobarde e sem alma o país que renega e despreza uma parte da história em que mais sangue e lágrimas exigiu ao seu povo. 

Nas viagens que fiz por essa Europa fora, são incontáveis os locais de memória e de honra aos militares tombados no decurso das duas guerras mundiais, do século XX. 

Visitei imensos cemitérios americanos, alemães, ingleses, franceses e de tantos outros países que diariamente honram os seus heróis, cuidando e venerando os locais onde foram enterrados. 

São estes pequenos gestos que distinguem o carácter de uma nação. Portugal, pelo contrário, procura esquecer a guerra colonial e os que lutaram nas três frentes na ilusão de que defendiam o seu país. E são milhares os que por lá ficaram, por entre o capim, num hediondo aviltamento e infâmia da sua memória.

Estremoz continua cercada por fortificações do século XVII a abrigar dezenas de igrejas, dois conventos, o antigo palácio do rei D. Dinis, o museu rural e o museu de arte sacra, entre outro património histórico.  Lá se mantém imponente o castelo, com a sua torre de menagem, a acolher uma estalagem no seu ventre. 
Dali almeja-se uma soberba vista sobre a cidade esbranquiçada e, mais ao longe, a suave planície alentejana. Donde não apetece sair.
                                          

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