sábado, 4 de outubro de 2014

Um português dos melhores






Setembro foi mês de viagem pelo meu país. 
O primeiro objectivo era a visita à Freguesia de Cabanas de Viriato, nas fraldas da Serra da Estrela, estritamente para homenagear um dos portugueses mais ilustres do século XX: o Cônsul, Aristides de Sousa Mendes.
Chegamos a Carregal do Sal já a tarde estava a findar. 
Aí pernoitamos junto da Biblioteca Municipal. A noite, apesar de chuvosa, seria bem mais tranquila, não fossem quatro pequenos cães que decidiram denunciar a sua presença quase até ao amanhecer.
No dia seguinte, rumamos a Cabanas de Viriato. E, de imediato, dirigimo-nos para junto do Palacete, que foi residência de Aristides Sousa Mendes.

Em 1940, este diplomata era cônsul em Bordéus, num momento em que milhares de refugiados judeus invadiam a cidade, na sua ânsia de escapar ao avanço do exército nazi. 
Imagem Google
Tocado pelo desespero dos que acorriam ao consulado, em busca de um visto para Portugal, Sousa Mendes decidiu correr o risco de salvar aquela gente, contrariando as directivas do governo de Salazar. 
Em apenas três dias terá passado cerca de 30 mil vistos, um terço deles a judeus.
As consequências deste acto de desobediência ao representante máximo do regime, representaram a destruição da sua vida: expulsão da carreira diplomática, sem direito a qualquer tipo de reforma, e a proibição do exercício da advocacia.
A partir desse momento, a sua vida passou a ser de grandes privações. 
Homenagem da CM de Santarém  -  (Imagem Google)


Mas, o que o Cônsul mais terá experienciado com amargura foi o ostracismo e a vilania da maior parte dos «amigos» que tanto ajudara e que, ao saber da sua situação política e social, se afastaram e o desprezaram.
Sentiu na pele o que alguém um dia sintetizou: 
«O melhor indicador do carácter de uma pessoa é como ele trata as pessoas que não lhe podem trazer benefício algum».

Hoje, Aristides Sousa Mendes é recordado por muitos dos que salvou da morte certa às mãos de Hitler. 
A mansão, que foi o seu berço e onde viveu em amargura os seus últimos dias, está a ressuscitar de um abandono que lhe roeu as entranhas.
Gostei de testemunhar o andamento das obras de reconstrução, apadrinhadas pelo Governo de Portugal e por associações de cidadãos americanos que terão sido salvos pelo Cônsul ao tempo da invasão da França pela Alemanha. Ainda bem que assim é!

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