Setembro foi mês de viagem pelo
meu país.
O primeiro objectivo era a visita à Freguesia de Cabanas de Viriato, nas
fraldas da Serra da Estrela, estritamente para homenagear um dos portugueses
mais ilustres do século XX: o Cônsul, Aristides de Sousa Mendes.
Chegamos a Carregal do Sal já a
tarde estava a findar.
Aí pernoitamos junto da Biblioteca Municipal. A noite,
apesar de chuvosa, seria bem mais tranquila, não fossem quatro pequenos cães
que decidiram denunciar a sua presença quase até ao amanhecer.
No dia seguinte, rumamos a Cabanas
de Viriato. E, de imediato, dirigimo-nos para junto do Palacete, que foi
residência de Aristides Sousa Mendes.
Em 1940, este diplomata era cônsul
em Bordéus, num momento em que milhares de refugiados judeus invadiam a cidade,
na sua ânsia de escapar ao avanço do exército nazi.
Imagem Google |
Tocado pelo desespero dos
que acorriam ao consulado, em busca de um visto para Portugal, Sousa Mendes decidiu
correr o risco de salvar aquela gente, contrariando as directivas do governo de
Salazar.
Em apenas três dias terá passado cerca de 30 mil vistos, um terço
deles a judeus.
As consequências deste acto de
desobediência ao representante máximo do regime, representaram a destruição da
sua vida: expulsão da carreira diplomática, sem direito a qualquer tipo de
reforma, e a proibição do exercício da advocacia.
A partir desse momento, a sua vida
passou a ser de grandes privações.
Homenagem da CM de Santarém - (Imagem Google) |
Mas, o que
o Cônsul mais terá experienciado com amargura foi o ostracismo e a vilania da
maior parte dos «amigos» que tanto ajudara e que, ao saber da sua situação
política e social, se afastaram e o desprezaram.
Sentiu na pele o que alguém um dia
sintetizou:
«O melhor indicador do
carácter de uma pessoa é como ele trata as pessoas que não lhe podem trazer
benefício algum».
Hoje, Aristides Sousa Mendes é
recordado por muitos dos que salvou da morte certa às mãos de Hitler.
A mansão,
que foi o seu berço e onde viveu em amargura os seus últimos dias, está a
ressuscitar de um abandono que lhe roeu as entranhas.
Gostei de testemunhar o andamento
das obras de reconstrução, apadrinhadas pelo Governo de Portugal e por
associações de cidadãos americanos que terão sido salvos pelo Cônsul ao tempo
da invasão da França pela Alemanha. Ainda bem que assim é!
Sem comentários:
Enviar um comentário