Chove muito em Esposende. A manhã vai a meio. Viemos para cá na expectativa de uma
caminhada pela marginal deste belo recanto do Minho.
O mar balanceia em
contínuo as suas águas que sobem a praia em cadências de tempo certo
perdendo-se com alva e ilusória palidez.
A meu lado, a companheira de uma
vida lê notícias requentadas em revistas que sempre nos acompanham. No banco de
trás, Miguel Torga aguarda que eu termine este desabafo para lhe absorver a vida
que descreve nos seus «Diários» que, como o próprio refere, «espelha as próprias ondulações do meu
espírito». É um escritor que amo, não só, pela prosa cativante, mas também,
pela forma como desenrola os seus dias em contacto com a natureza humana. Conta
histórias como se o leitor fosse um companheiro de jornada e as suas
inquietações são como um mar que, ora se mostra de humor encapelado ora manso
de afectos por toda a paisagem humana ou geográfica que o rodeia.
A música da «Rádio Comercial»
continua a inundar o ambiente interior da viatura onde nos deslocamos. Lá fora,
a chuva, fria de Outono, cai desamparada pelo vento enquanto o mar prossegue a
sua labuta de agitação das águas num esforço sem descanso.
Ao recinto chegam, de vez em
quando, almas solitárias que, após cismar o largo oceano, se aventuram
numa breve espreitadela das ondas, cada vez mais donas da praia.
O café fronteiro ao mar aguarda
pela chegada do meio-dia na esperança de que viajantes famintos lhe façam
companhia. Neste ambiente cinzento de um Outono demasiado invernoso!
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