segunda-feira, 30 de maio de 2011

Momentos …

Deu para sair nesse dia pela calada da noite.
O caminho fez-se, assim, mais liberto de confusão. Cedo se chegou ao destino: Aver-o-Mar. É para fazer jus ao nome da pequena povoação que para lá me dirijo tantas vezes: para ver o mar!
Não sei porquê, mas o mar transmite-me emoções várias. Desde logo, uma sensação de liberdade. Porque gosto de estender o olhar pela imensidão das suas águas e perscrutar outros horizontes e a maresia de saudade.
Mas também me incute uma sensação de assombro. Porque o oceano encerra muitos mistérios, esconde muitas histórias de aventura e ousadia e desperta mitos ancestrais.
Para o meu país, o mar foi fonte de inspiração e terreno de descoberta. É nele que muitos poetizam a vida e descobrem palavras de magia para entender a razão desta caminhada. Foi por ele que muitos se aventuraram numa epopeia que, como falou Camões, «deu novos mundos ao mundo». É nele que muitos ainda buscam o sustento. Numa faina de muitos sonhos mas também de vários perigos.
Não se entende porque é que o mar deixou de ter a importância do passado para a economia do país. Não se entende que um país com tanto mar tenha ignorado, anos a fio, esta enorme riqueza estratégica para o seu desenvolvimento. Não se entende!
A importância do mar está onde a quisermos colocar. Lembro que, há cerca de dez anos, teve lugar um concurso, dirigido a jovens: ganhava quem escrevesse a melhor mensagem numa carta a enviar ao Presidente dos Estados Unidos da América. Iniciativa à escala europeia, o vencedor desse concurso foi um jovem português.
A carta que dirigiu ao Presidente dos EUA consubstanciava-se num convite para que aquele dirigente mundial olhasse o mar antes de tomar decisões importantes para a humanidade. Acho que não terá sido por acaso esta imagem do mar. Porque ele permite que estendamos o pensamento ou fiquemos acantonados nos horizontes da liberdade. Permite verter angústias e conflitos da alma. Permite, sobretudo, a serenidade para se perceber mais profundamente a origem das coisas.
Mas voltemos ao início desta prosa. Quando a noite se faz de luar por entre as dunas, as gaivotas fazem-se anunciar num chamamento contínuo de que a noite do mar é para ser vivida e não dormida. Em Aver-o-Mar são delas os primeiros sons da madrugada. Esvoaçam no enorme recinto junto da praia, enquanto o mar continua resmungando a sua missão e canseiras.
Não há melhor remédio para a alma do que acordar com o céu azul ainda tingido de vestígios da lua e o cheiro a maresia a inundar os pulmões que sustentam a vida. São estes momentos, em que a natureza faz questão de se revelar em toda a plenitude, que transportam magia e justificam tanto caminho.
São estes momentos…

Carlos da Gama
                      Foto: Google Imagens

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