domingo, 15 de maio de 2011

Carta de navegação

Estava ali, de fato negro, camisa escura e gravata branca. As mesmas cores do curso que tinha escolhido frequentar na Universidade.
O cerimonial assim o exigia e ele tinha aceitado aquela indumentária. Que era contrária à que sempre usou. Talvez porque compreendeu que este seria o início de um novo ciclo da sua vida.
A festa foi bonita. Apesar de, aqui e ali, os discursos repetitivos ameaçarem de alguma monotonia a tarde alongada. Mas, no conjunto, esteve bem.
«Recebeis, hoje, a vossa carta de navegação!». Foi assim que a «Magnifica» Reitora da Universidade definiu o momento. Eram também para o Carlos Eduardo aquelas palavras. Ali estava, com garbo e visível orgulho, a receber a sua «carta de navegação», o diploma por que tanto se tinha esforçado!
Vi-lhe o rosto iluminado de felicidade no momento que foi chamado ao palco para receber o «canudo» de mestre em arquitectura. Aquela manifestação  de orgulho estampado na alma, pareceu-me ser a mesma sensação de um alpinista que atinge o cume da montanha e se prepara para olhar o horizonte a perder de vista. Num cenário difícil mas não impossível. O mais importante tinha sido a chegada ao cume.
Um turbilhão de emoções tomou conta de mim no preciso momento em que o meu filho recebeu o diploma. Que eu espero constitua a sua verdadeira «carta de alforria».

Senti um indisfarçável orgulho por ver ali o Carlos Eduardo que acompanhei, desde o nascimento, com muito amor. Um sentimento de enorme serenidade e conforto invadiu-me a alma. Fiquei feliz por lhe ver no olhar o brilho de felicidade. Porque, também para mim, aquele era um momento especial muito desejado. E ele sabe bem disso!
Por vezes, exteriorizamos mal as emoções que se soltam de nós. Sobretudo quando elas são feitas de nostalgia e de liberdade! Por vezes, falamos diferente do que sentimos. Por vezes… Mas é sempre no mar de afectos que recolhemos o melhor da vida e que nos encontramos. É no oceano de emoções que navegamos sempre. Sempre!
Parabéns Carlos Eduardo. Que a vida te abençoe. Que sejas feliz. Tu mereces!
  Carlos da Gama
                      Foto: Google Imagens

1 comentário:

  1. Esta "carta de navegação", ou se o preferires esta "carta de alforria" não me seria entregue sem a tua ajuda durante este anos todos.
    Ainda me recordo das tuas "descidas" da cama durante a madrugada para ver se eu queria ajuda a acabar esta ou aquela maqueta, ou então aquele olhar interessado que tu fazias para as plantas tipológicas por mim projectadas, mesmo não sendo uma área que tu dominasses. Estiveste sempre presente.
    São este tipo de atitudes que me fazem sentir um grande orgulho em ti pai.
    Foi o teu exemplo de vida que inspirou a minha e que continuará a ser o ponto de partida para todas as minhas decisões ao longo da vida. Aprendi contigo, entre muitas coisas que a humildade e a dedicação nunca serão demais, não só profissionalmente mas também socialmente. Se mantiver esse tipo de comportamento ao longo da minha vida, esta encarregar-se-á de me recompensar. E é com base nesta filosofia de vida que vou continuar a minha jornada.
    A manifestação de orgulho que estava estampado na minha alma que tu falas é o reflexo do orgulho que eu sinto por ti.
    Pertences e sempre pertencerás ao restrito núcleo de pessoas que são mais importantes para mim.
    É por isto tudo que não me canso de te agradecer, e acima de tudo de te dizer que esta "carta de navegação" não é só minha, mas também tua. O “canudo” não é meu, mas sim nosso.
    Obrigado pai, obrigado.

    ResponderEliminar