segunda-feira, 23 de maio de 2011

O sentido da vida …

Um dia destes, dei comigo em animado diálogo, com um velho amigo, sobre um tema que tem apaixonado gerações de pensadores até aos nossos dias: o sentido da vida!
E cada um de nós procurava, com despropositada arrogância, ganhar o outro para as «verdades absolutas» do nosso pensamento, como se o assunto fosse de fácil objectividade e compreensão. E não é, de todo!
Vivemos o dia-a-dia embriagados com as rotinas que construímos e os anos passam a uma velocidade estonteante. De repente, damos conta que parte das utopias da adolescência e juventude transformaram-se em realidades, enquanto outras continuam inacessíveis à racionalidade. E uma das questões que permanece imutável, e sem respostas absolutas, é o sentido da vida, ou seja, a razão de ser desta passagem breve do ser humano pelo planeta.

Perturba muito sabermo-nos tão frágeis quando olhamos mais longe. Sobretudo, quando ousamos comparar-nos com alguns dos seres da natureza de que somos parte integrante.
Quando, por vezes, lanço o olhar mais atento sobre, por exemplo, obras arquitectónicas, um dos pensamentos que me condiciona a razão é a irracionalidade que parece advir do facto da minha média de vida ser infinitamente menor do que a da obra de arte e dos respectivos elementos que a compõe. O ser humano tem um prazo de validade desmesuradamente menor quando comparado com o tempo de vida de outros seres e elementos da natureza.

Estou, neste momento, a avistar, pela vidraça do meu gabinete, uma oliveira. A planta tem cerca de 20 anos e ainda não saiu do infantário. E sei que, se não houver mão humana a condicionar-lhe o futuro, ela terá uma longevidade de centenas de anos. Ou seja, por este gabinete passarão várias gerações de homens enquanto a oliveira permanecerá por ali algumas centenas de anos.  Uma simples constatação que reflecte bem a fragilidade do ser humano e da idade breve de que se faz a sua vida. E esta torna-se ainda mais curta quando vivemos apressados os dias e não damos conta que os anos se esvaem num ápice.
Daí que apeteça repensar toda a estratégia de vida que construímos e todo o sentido que damos a esta passagem. E que sejamos tentados a procurar responder às questões de vida e de morte com a existência desejada de um ser superior que tudo regula e acompanha. Esta é uma inquietação que tem perpassado os séculos sem que, a meu ver, tenha sido possível obter uma resposta objectivamente aceitável.

Os dogmas não satisfazem a avidez que sinto na alma de compreender de onde venho e para onde vou. Preciso de objectividade e de racionalidade. Não do manto diáfano de que Deus é o ser supremo, «criador do céu e da terra e de todas as coisas visíveis e invisíveis». É curta esta ideia perante o sentido da vida! Porque mais condicionada pela necessidade.
Não é por acaso que Antero de Quental, num dos seus magníficos sonetos, questiona, de forma sublime, esta versão de Deus criador do homem: «Deuses (…) porque nos criaram?», deixando que, nos versos seguintes, surgisse a resposta que não desejaria obter: «(…) mas os deuses, com voz ainda mais triste, dizem: Homens! Porque é que nos criastes?!”».

Julgo que este pensador das questões da alma, expoente de uma plêiade de grandes escritores que ficou conhecida pelos «vencidos da vida», soube, melhor que ninguém, que as questões metafísicas nem sempre conduzem a um final feliz. Porque sempre o homem questionou, sem sucesso, a razão de ser da existência humana e o verdadeiro sentido da vida. Parafraseando Miguel Torga, também eu acredito que a vida só tem o sentido que cada um lhe dá!


Carlos da Gama
                      Foto: Google Imagens

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