domingo, 22 de maio de 2011

Olhar o mar!

A noite foi de luar manso e de neblina quente. A hora ia já avançada quando aparcamos. O primeiro sinal de que mudamos de rotina é a maresia que se faz presente logo que abro a janela da Micha. E as gaivotas que, de quando em vez, emitem sons pela noite, como que a desejar as boas-vindas.
O mar estava ali tão perto. E anunciava-se constantemente com o rumor de teimosia das ondas. Apetecia estar ali eternamente aconchegado a contemplar o mar pela noite dentro.
Saborear o silêncio do seu murmúrio. Ficar embevecido com o prateado das suas águas pelo reflexo do luar. Estávamos todos ali fruindo a serenidade da vida: nós, o mar e a lua. Que mais ambicionar sentir? Talvez esta seja a felicidade tão procurada: momentos de paz em completa harmonia com a natureza que mais enternece!
Apetece registar o momento … e não regressar mais à vida. A noite completou-se com uma mistura de emoções libertadas. Pudera! A vida de cada um é feita de momentos que, para o bem e para o mal, traçam o destino de forma inexorável. E estes momentos de parceria e grande intimidade com o mar e o céu da lua dão-nos uma visão mágica do viver!
De manhã, saí da Micha e caminhei longamente pela praia ainda deserta de gente. Aqui e ali uns pescadores solitários lançando o isco para a captura do sustento. De olhar fixo no mar e na linha e aguardando pacientemente um simples repuxo da cana, estes homens não sentem o tempo passar. É a esperança que lhes alimenta a alma e lhes dá vida para renovar aquela rotina cheia de maresia.
No caminho, junto da rebentação, admirei a força das águas que não se cansam de exibir o branco da espuma a subir o espraiado. Mais à frente, um vulto negro de mulher-avó curvado sobre a areia fresca da manhã. Procurava, no restolho que o mar devolveu à praia, qualquer objecto que levasse uma magia de afectos aos seus mais novos. O sonho comanda a vida… e ele está presente nessas buscas de algo desconhecido que povoa o imaginário das gentes do mar!
As gaivotas estão em maior número. O mar está mais tranquilo. E os ABBA continuam a dar uma excelente sonoridade a este silêncio de palavras escritas. E eu vou abandonar a tela para melhor olhar o mar!

Carlos da Gama
                      Foto: Google Imagens

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