domingo, 23 de outubro de 2011

Até quando?



«- (…) E é assim: tem confiança em ti própria, tu consegues! (…)».
Ouvi esta frase, há momentos, no passeio da cidade, quando regressava para mais uma tarde de trabalho. 
Foi pronunciada, ao telemóvel, por uma mulher de cerca de 50 anos.
Imaginei que estaria dando força a sua filha, ou a uma amiga muito querida, tal a era a ternura com que embrulhava as palavras de incentivo e conforto. 
No entanto, o seu semblante estava rígido e denunciava uma preocupação com a interlocutora que, imaginei, estivesse num processo inicial para qualquer etapa da vida.

Quando caminho pelas ruas deste meu país, gosto de olhar o rosto das pessoas para lhes adivinhar a idiossincrasia. Porque cada ângulo do rosto revela o estado de espírito em cada momento.
Ultimamente, vejo as pessoas com um caminhar mais esforçado, de olhar perdido, semblante triste e direcção confusa. As notícias dos últimos anos, sobretudo dos últimos meses, têm o fulcro numa simples palavra: crise! Crise no emprego, crise de valores, crise na sociedade, crise na justiça e crise na família. E isto sente-se na alma e reflecte-se no rosto.
O país entrou numa fase recessiva que, de início, foi pouco valorizada. Com o surgimento inesperado da crise mundial, tudo começou a desmoronar-se como um castelo de cartas.
Não admira, pois, que um recente estudo, sobre o consumo de fármacos, tenha concluído pelo preocupante e continuado aumento de anti-depressivos na população portuguesa.
Para além dos mais desfavorecidos da sociedade, a crise económica e financeira atingiu uma grande parte da classe média que, de um momento para o outro, se viu sem base de sustentação do nível de vida em que vivia. Por isso, cada vez mais se fala em pobreza envergonhada.

Para além dos consecutivos aumentos de impostos e do aprofundamento do desemprego, os trabalhadores do Estado passaram a ser os «bodes expiatórios» de tudo o que de mal correu a nível da economia do país. Daí à redução drástica de salários e pensões foi um ápice, a ponto de perderem cerca de um terço do salário, até ao momento.

Esta politica cega, de corte no rendimento das pessoas, conduz ao inevitável: as famílias ficam depauperadas e não investem nem dinamizam a economia. 
Não admira que as projecções da economia portuguesa para o próximo ano apontem para uma recessão de cerca de três por cento do Produto Interno Bruto.
Com este cenário, são milhares as empresas que abrem falência e muitas as famílias que, não podendo satisfazer os seus compromissos, ficam em situação de insolvência. 
Com a crise europeia sem dar sinais de abrandar, a incerteza do futuro agiganta o medo que toma conta das pessoas e das famílias.
Está justificada a imagem de ensimesmamento que inundou as ruas do meu país. As pessoas andam de rosto fechado e com a alma enegrecida por projectarem um futuro cada vez mais incerto.
Até quando?

                  Fotos: Google Imagens     

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