Foto: Google Imaagens
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Já lá vão alguns anos que vi partir o cantor de intervenção que preencheu a rebeldia da minha juventude: Adriano Correia de Oliveira.
Uma voz fantástica que imortalizou as «Trovas do vento que passa» escritas pelo poeta de excepção, então exilado, Manuel Alegre.
Num tempo em que a ditadura fazia o seu caminho, amordaçando as liberdades aos mais variados níveis de intervenção económica, social e politica do povo português, eram homens como estes que teimavam em manter acesa a chama do inconformismo e da resistência.
Adriano foi um exímio intérprete do fado de Coimbra e um preponderante elemento da geração de cantores da resistência ao Estado Novo, conhecida como música de intervenção.
Lembro que cheguei a deslocar-me a Lisboa para o ouvir, numa festa anual do partido político em que ele militava. E de ficar deslumbrado pelo seu excepcional timbre de voz que inundava de vertigens a alma de todos os que o ouviam.
As cantigas do Adriano segregavam fortes emoções onde o sonho ganhava a dimensão das utopias construídas nos tempos juvenis.
Ao ouvi-lo cantar, o meu pensamento vagueava por entre brumas de indignação pelas injustiças e repressão dos povos amordaçados por tiranetes de ocasião.
Foto: Carlos Carvalho
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Parece que aguardava que a aurora libertária da Revolução do 25 de Abril de 1974 se consolidasse para se permitir partir para outra dimensão.
Ficou-me gravado na memória a capa do «single» de canções que, imediatamente ao seu desaparecimento, alguns amigos reeditaram, como homenagem póstuma, em que o Adriano surge, em toda a sua imponência, a caminhar por uma longa estrada, de costas voltadas e com a viola a tiracolo.
A partir deste ícone, sempre que o Adriano emerge da minha alma, pela magia da sua voz, retenho essa metáfora da nostalgia que sempre existe na partida para outros destinos.
É assim que me vejo quando também decidir partir: de costas, caminhando pelo espraiado do mar e com a saudade a tiracolo.
Carlos da Gama
Carlos da Gama
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