quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Silêncios de ouro!





Foz do Neiva, meio-dia!
Chegamos há cerca de duas horas. Subimos o passadiço dunar, para olhar o mar do alto da falésia. 
Lá ao cimo, um banco de madeira fronteiriço convida a saborear o oceano que se remexe num contínuo murmúrio de paz. 

Junto ao banco, um casal de namorados iniciava um aquecimento que haveria de terminar em frenesim de abraços, beijos e de mútua entrega dos corpos à liberdade dos sentidos.Tive pena de ter surgido por ali, precisamente, naquele momento. Mas … há caminhos onde só existe retorno após cumprida a liturgia. E o mar estava ali aos nossos pés, deslumbrante de calmaria e de leve rumor, apesar da costa estar pejada de pedras roliças.

Após o passeio pela margem do Neiva, até à foz, o silêncio invadiu-nos até ao âmago. Já há muito que não me sentia como que em levitação e fruindo de uma paz búdica que só se encontra por aqui neste tempo de hibernação geral.
O escasso casario que aqui foi plantado, quase todo vocacionado como abrigo de veraneio e de final de semana, completa um cenário todo feito de bem-estar e de desejada solidão.

O Rio Neiva corre, lentamente, por entre juncos e canaviais após deixar, mais a montante, os campos de regadio. 
Na foz, este manso curso de água alarga-se um pouco mais deixando formar umas pequenas ilhotas no seu seio, guarida das gaivotas em tempo de digestão e sesta.
Neste momento, pressinto o rio engrossar pela força da maré cheia. 
Aqui e ali ouvem-se os sons dos peixes que saltitam, talvez de satisfação pela abundância de nutrientes ou pelo paraíso que lhes coube na sorte.

Não há vivalma por aqui. Apenas uns rafeiros se aproximam da Micha, porventura, atraídos pelos cheiros gastronómicos que a Tonicha confecciona neste momento.
Estendo a vista pelo casario, postado mais ao longe, para os lados de Castelo do Neiva, num quadro multicolor que embeleza os montes que aconchegam o produtivo Vale do Neiva. E, uma vez mais, sinto o silêncio quieto, búdico e acolhedor. Parece, até, que o tempo parou para melhor fruir desta paisagem de sonho.

Há momentos, confessava à Tonicha que estes retintos silêncios embebedam-me a alma. E que, talvez, seriam em demasia se cá ficássemos vários dias. Ripostou-me com um «Ainda teremos saudades destes silêncios!».
Dou-lhe razão. Porque é neste contexto que consigo olhar para dentro de mim com maior desassombro. É neste silêncio que sinto a alma a crescer. Sem dúvida que a vida ganha mais sentido no meio destes silêncios de ouro!

  Carlos da Gama

                  Fotos: Google Imagens     

Sem comentários:

Enviar um comentário