sábado, 17 de dezembro de 2011

Magia do pão-trigo

 
A Cáritas é uma organização não governamental, pertencente à Igreja, criada com objectivos eminentemente pastorais em meados da década de cinquenta do século XX. 
As suas primeiras actividades centraram-se, fundamentalmente, na distribuição de géneros alimentares pela população portuguesa naquele tempo de penúria que se seguiu à segunda guerra mundial.
Nos nossos dias, as Cáritas Diocesanas têm plena autonomia e personalidade jurídica própria com exclusiva dependência do bispo da respectiva diocese. 
E a Caritas Portuguesa é membro da Caritas Internacional, que é a confederação de 165 organizações católicas de ajuda, de desenvolvimento e de serviço social de todo o mundo.
Foto: Google Imagens 

Nos tempos recuados da minha infância, lembro bem da acção da Caritas nas aldeias do meu país, um dos mais pobres da Europa Ocidental.
Ainda hoje delicio-me a cheirar o pão-trigo, com retardo de um ou dois dias, num ritual que me inspira essa época de sonhos e afetos.
Recordo bem que, todas as manhãs, antes da abertura da escola primária, as crianças dirigiam-se à Quinta do Sr. Faria para ali beber leite em cocas de latão, acompanhado com um pão com queijo ou marmelada. 
Todos aqueles produtos eram fornecidos pela Caritas a uma das famílias mais abastadas da minha aldeia com a responsabilidade de os redistribuir pelas crianças em idade escolar.
Aquele cheiro do pão já recesso ficou impregnado na minha memória de afetos. A ponto de, ainda hoje, sentir prazer em abrir o pão trigo e aspirar aquele mágico odor que me conduz, de imediato, àquele tempo feliz que foi a minha infância.
Este hábito de abrir o pão-trigo e de aspirar o odor que exala, tem sido demasiado notado pelos meus mais próximos conviventes que sempre me questionam a razão daquele ritual. 
Mas é um impulso irresistível esta forma de reviver uma época que, apesar de difícil, evoca emoções que ficaram impregnadas na parte mais feliz da minha memória de vida.

Sempre gostamos de regressar às origens, mesmo que seja através da memória dos sentidos. Mas não gostaria que este meu país voltasse a precisar da ajuda desta Organização na alimentação saudável das crianças com a abrangência que tinha à época. 
Porque isso representaria um regresso ao indesejável limiar da pobreza.
Apesar de tudo, sinto prazer na descoberta de memórias da minha infância quando o sentido do olfacto desperta na magia do pão-trigo.

  Carlos da Gama

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