terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Chegar, estar e partir!


                                                                                                                                                                              Foto: Google Imagens        
                                                                 


Ao alongar o olhar, no conforto da vidraça do meu gabinete, concentro-me nas árvores despidas no frio invernoso que confirma o mês de Dezembro.
E interrogo-me da razão deste aparente paradoxo. Então, não seria mais óbvio que, tal como fazem os humanos, as plantas reforçassem a sua protecção com mais pétalas e ramagens?
Esta contradição, que mais parece um sacrifício oferecido aos deuses, deixa-me perplexo.
Uns alvitram que, dessa forma, a natureza evita o Inverno partindo para uma hibernação de três meses. Ou seja, viaja para um contexto de penumbra e esquecimento de forma a não sentir os rigores gélidos dos dias longos de escassa luz. Desaparece, dizem, por uns tempos, para emergir em apoteose logo que os primeiros afagos da Primavera se fizerem pressentir.

Vivi, durante alguns anos da minha adolescência, num colégio religioso que ficava para os lados do Porto. Defronte ao Colégio situava-se um lar de idosos de pessoas abastadas, quase todas ligadas à área do comércio. Gostava de o visitar amiúde, pela exuberância da flora que aquele enorme recinto exibia e pelo contexto acolhedor que a casa de repouso oferecia.
Lembro bem da mobilidade fácil e dos sorrisos dos velhos, que ali passavam o resto da sua vida, quando o tempo estava de feição. Mas, também, retenho, na inquieta memória, que o Inverno tinha o condão de aproximar a morte dos mais frágeis. Quase diariamente testemunhava a partida de mais um residente daquele paraíso. O número de partidas era tremendo nos meses em que a natureza se lançava nos braços da hibernação.

É fácil conformarmo-nos com a tese de que está a ser cumprida a lei da vida, que se manifesta no ciclo de chegar, estar e partir! O corpo lá se vai resignando com a perda de vigor pela passagem dos anos. E o espírito acomoda-se, de igual forma, a este ciclo da vida humana que muito se assemelha às estações do ano.
Uma das teses de promoção da saúde mais propaladas nos últimos tempos é a de que importa dar mais vida aos anos do que mais anos à vida. Ou seja, o importante é a forma como vivemos e não o tempo que vivemos. Na certeza de que este intervalo da nossa existência, que chamamos de vida, resume-se a este fantástico ciclo de chegar, estar e partir!

  Carlos da Gama

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