quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Por sobre as águas!

                                                                                                                                                                                                                                                      Foto: Carlos Carvalho        



Já tinha uns dez anos quando olhei o mar pela primeira vez. Não o tinha, até então, ainda gravado na memória de afetos. Talvez pelo facto de nesses tempos recuados o mar não possuir o fascínio que à época me inspirou.
Lembro bem, foi para os lados de Vila do Conde, mais precisamente, na praia de Azurara, junto à foz do Ave, que o mar se recolheu na minha alma.
Retenho, bem presente, o intenso cheiro da maresia que, então, o oceano exalava. E a magia dos sons das ondas que se espraiavam em abundante espuma branca. Esse deslumbramento permanece em mim, apesar da fluidez do tempo.
Eram felizes os dias passados no colégio em época de veraneio. A noite era dominada pela ansiedade da espera da partida para Azurara. Ali chegados, era um «ver se te avias» para mais rapidamente chegar junto do mar. E para ali ficava deslumbrado pela grandeza do oceano e fascinado pela gigantesca energia que exibia. Gostava de permanecer junto dos pescadores e admirava a facilidade com que os peixes eram enganados com os iscos atirados para as águas inquietas pelo encontro do rio com o mar.
Foi na foz do Rio Ave que nadei pela primeira vez num inusitado atrevimento de passagem para a outra margem. Ainda hoje sinto a vertigem do terror que se apoderou de mim quando tive que batalhar com pés e mãos para me aproximar de terra firme. Esta leviana aventura, que poderia ter desaguado num destino fatal, acabou por se transformar numa conquista de futuro. Porque foi a partir daí que passei a fruir de um dos meus maiores prazeres: a liberdade de andar por sobre as águas!

   Carlos da Gama

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