segunda-feira, 6 de junho de 2016

Trabalhos forçados




Cada indivíduo carrega uma história dentro de si. Uns mais atreitos a passar a vida numa banalidade de números e letras. Outros, curvados perante as pedras, as areias e o cimento ao construir os casulos de outros. 

Por razões de herança, passei, cerca de meio ano, num ambiente laboral completamente distinto do que fiz em toda a minha vida. 
Do uso de papel, caneta e computador e das funções de gestão, tornei-me num ajudante de pedreiro e de trolha. 

Peguei em rochas bem pesadas, arrastei areias e cascalho para os locais necessários, transportei baldes de cimento sem conta, ajudei a construir muros de pedra e betão, carreguei sacos de concreto e pacotes de cerâmica diversa, ajudei na medição de ângulos e esquadrias, de pés direitos e metros de muros. Discuti opções de concepção e de design. Geri expectativas sobre as formas e os conteúdos que se criavam e rejubilei com os resultados alcançados dia após dia.

Foi uma experiência de trabalhos forçados, por interesse e vontade próprias, para entender melhor o outro lado da subsistência humana. E valeu a pena, em múltiplos sentidos. Foi, sobretudo, uma fascinante experiência de vida. Impressiona o alento que os obreiros carregam para o estaleiro. É um deslumbre constatar, a cada dia, uma disposição que não deixa penetrar o cansaço. 

São bem-aceites o anedotário e a brejeirice que liberta risadas e comentários bem subtis. 
Não choca o mal-estar momentâneo pelas falhas imperdoáveis, logo corrigidas, não venha o patrão a saber. 
Sensibilizam as conversas animadas sobre o mulherio da zona ou sobre o tempo que passa. 
Tudo serve para alimentar o dia-a-dia e esquecer as agruras de uma rotina penosa.
Como escreveu alguém, «a arte de viver é, simplesmente, a arte de conviver». Qualquer que seja a missão, qualquer que seja a função!


2 comentários:

  1. Mas esse árduo trabalho deu frutos..... um espetáculo. Parabéns pelo esforço.

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  2. Thanks. O teu estimulo foi fundamental para aguentar o dia-a-dia. As tuas palavras - ditas ou escritas - funcionaram como antídoto para o desânimo, acredita. Adoro-te ... adoro-vos! Bjo

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