quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Rotinas de sempre!



Estamos a avançar, a passos largos, para o final do mês de Agosto. A vida começa, aos poucos, a regressar a uma indesejada normalidade, porque composta de rotinas de que as férias constituem um breve intervalo.
A véspera do regresso deixa-nos sempre levemente apreensivos. Porque voltam as angústias rotineiras de casa-trabalho-casa. 

Voltam as canseiras e as surpresas que nos deixam mais cativos da nostalgia. 
Voltam os dias cada vez mais curtos e com uma luz mais difusa. 
Em suma, após se reviverem alegrias e abraços, regressam as rotinas e os cansaços. 
E volta a saudade dos sonhos impossíveis. 
 Talvez tudo isso aconteça apenas porque as origens mais remotas, de que somos protagonistas, sejam um misto de liberdade e natureza. Seremos do tempo em que se acham alguns resquícios tribais, ainda a salvo da civilização. E essas origens, que marcam o nosso ADN colectivo, criam a nostalgia de um tempo onde inexistem embaraços de qualquer espécie.

A civilização roubou-nos a autêntica noção de liberdade, sentida no contacto permanente com a terra e a natureza. Apesar de ganharmos algum controlo com o bem-estar e criarmos contextos onde o conhecimento do ser humano e do universo se alcança cada vez com maior desassombro. Mas esse é a parte positiva da civilização: a constante procura do conhecimento.
Era este também o pensamento do mestre do surrealismo, Salvador Dali que, no final da sua vida, à saída de mais um internamento hospitalar, gritou o seguinte lamento: "... Eu sou um génio e os génios não podem morrer, pois deles dependem o destino do mundo...".
Lembro que fiquei enternecido em frente da televisão ao ouvir a exteriorização magoada por parte daquele pintor que eu tanto admirava. E não me custou aceitar o seu argumento, apesar do pânico que revelava perante a inexorabilidade da morte.

Para além da ciência e do desenvolvimento social, o ideal maior é o retorno às origens mais remotas da nossa existência. 
Por isso, amo reviver a alquimia dos sonhos por concretizar e habitar inspirados desejos de aventura para incógnitas latitudes e emoções. 
Nessa dimensão, acho-me composto de vento e sombras. Porque gosto de voar pela aventura e beber a solidão de um espraiado sofrido.
Hoje, vejo muitos regressados à rotina dos dias e à voragem dos anos. Sinto a sua alma inquieta pelo precoce abandono de um tempo sem obrigações forçadas. Pressinto-os mais melancólicos por darem conta de que continuam escravos de uma incolor existência colectiva. 
É este o estado emotivo do difícil regresso às rotinas de sempre!

Fotografia:          Google Imagens

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