terça-feira, 2 de agosto de 2011

No céu das estrelas …



A notícia parecia querer rebentar-lhe o pensamento.
Um familiar próximo de uma pessoa que estimava tinha decidido partir, deixando um irreparável vazio de alma.
A notícia chegou-lhe gélida e apressada, deixando-o aturdido num emaranhado de emoções.
Por momentos, a perplexidade levou-o o olhar mais longe, como que na procura de respostas num qualquer infinito imaginado.
São momentos em que as palavras faltam à emergência de manifestação de conforto aos que dele carecem. Sabia, de experiência sofrida, que nada, mesmo nada, consegue aliviar a dor de um sentimento de perda. Porque só se perde o que nos pertence por inteiro.
Restava-lhe ficar por ali, mudo e quedo, imaginando vagamente o pungente cenário, ouvindo o murmúrio dos afetos perdidos e procurando partilhar sentimentos solidários.

Quando pensava na morte, procurava entrar em transe bucólico de leve magia. Buscava a fugaz liberdade que emerge do tempo em que a alma ruma ao infinito.
Quando pensava na morte, sentia medo de que ela preferisse os afectos de proximidade. Aos que partiam, via-os donos de uma viagem, caminhando de costas voltadas para o passado. Imaginava-os, olhando de frente, carregando a serenidade a tiracolo como se o destino fosse a eternidade.
Quando pensava na morte, quase sempre questionava a importância de partir aos vinte e sete ou aos noventa e sete anos. Habituara-se a olhar o tempo como um breve instante despido de dimensão. Se os anos se alongam, o tempo passa num ápice. Quando se parte jovem, o instante é vivido intensamente.

Sempre se deu bem com o termo «partir». Porque aquele vocábulo produzia-lhe sensações de liberdade ao seu inquieto viver. Partir à aventura, à descoberta ou, simplesmente, partir rumo ao desconhecido ou para outras dimensões.
Orgulhava-se de pertencer à plêiade dos desassombrados conquistadores quinhentistas que rumaram, sem medo, à descoberta do mundo desconhecido. Ou da mais recente errância de muitos compatriotas pelos cinco continentes em busca de melhor qualidade de vida.
Para afugentar a melancolia, relembrou a estrofe de um verso, que a alma exigia para aquele momento, despertado pelas emoções de liberdade:
                               
                                A morte não é mais que uma serena partida
Para o céu de estrelas donde se avista o mar
Ali aguardamos, com uma ânsia desmedida,
Que os afetos deixados nos dirijam o olhar!

Vai acontecer, sem dúvida!

                  Fotos: Google Imagens      

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