segunda-feira, 13 de junho de 2011

Magia do luar …


Quando uma canção impressiona ao ponto de, sem dar por isso, a trautear a todo o momento, de imaginar os contextos que a mensagem transporta, de sentir uma serena paz de espírito e a sua sonoridade fazer despertar emoções, é um sintoma real de que o objectivo foi atingido.

Ouvi, recentemente, pela enésima vez e com um prazer indescritível, uma das melodias mais belas da minha vida: «Luar do Sertão». Considerado um dos clássicos da música popular brasileira, este canto de saudade tem quase uma centena de anos. De autoria, ainda hoje, embrulhada em polémica, teve um enorme sucesso, foi gravado vezes sem conta e cantado por uma boa parte dos monstros sagrados da música do Brasil.
Vestido de um poema que ilustra a intensa nostalgia sentida por alguém do interior que vive no litoral longínquo, – «Não há, ó gente, oh não, luar como este do sertão...» – o autor emprestou-lhe uma musicalidade, tão doce e melancólica que arrepia a alma mais empedernida. O «Luar do Sertão» enche-me de nostálgica saudade. Porque é de saudade de que nos fala a letra. E é de melancolia que se veste a sua musicalidade.
É curioso como este trecho musical me faz sentir saudades de um país que ainda não visitei mas que apenas «conheço» através da leitura de vários livros, da visão de filmes e novelas e de reportagens e documentários da televisão. Certamente que segrego também saudades de enternecedores feitiços de maresia e vivências de familiares que, num passado já distante, rumaram para «Terras de Santa Maria», quando aquele país era um dos prometedores destinos de emigração.

O Brasil é um dos meus maiores sonhos de viagem. Já há muito que desejo visitar aquele imenso e belo país de língua portuguesa. Lembro bem da vontade intensa que me assaltou a alma no final da leitura do livro «Sul» de Miguel Sousa Tavares, sobretudo, o capítulo da descrição da viagem de «buggy» de mais de mil quilómetros pelas praias do nordeste. Porque, Brasil e maresia são uma combinação perfeita de intenso efeito de evasão e liberdade!
Lembro, também, o Brasil do «Rio das Flores», primorosamente romanceado pelo mesmo escritor. E adorei saber da vida do Rio de Janeiro à época e dos locais que perduram com idêntico «glamour», como é o exemplo do «Copacabana Palace», entre outros. Era o tempo da nova descoberta do Brasil pelos portugueses.

A colonização daquele imenso território deixou-nos esse património comum que é a língua portuguesa. O que facilita o intercambio entre os dois povos e culturas.
O doce sotaque brasileiro, trazido, em primeiro lugar, pelos emigrantes regressados ao seu país e, mais tarde, pelas novelas da televisão, aumentou fortemente o carinho que os portugueses sempre nutriram pelo povo brasileiro. Sobretudo pelos descendentes dos que um dia se fizeram ao mar em busca do sonho!
Daí ser raro encontrar um brasileiro que aterre no nosso país sem que tenha o propósito de visitar o torrão natal donde partiram os seus antepassados: do Minho, das Beiras ou de Trás-os-Montes. E este intercâmbio constitui uma enorme riqueza cultural que deve ser aproveitada em favor de ambos os povos.

Por vezes, dou comigo a afirmar com inusitada convicção: «Adoro o Brasil». Mas fico um pouco intranquilo por ter de responder à questão que resvala, de imediato, do meu interlocutor: - «Que região conhece?», dado tratar-se do maior território sul-americano.
Pois… não conheço ao vivo e a cores! Ou melhor, conheço sim! Mas apenas, como referi acima, através da tela dos média, das novelas que apresentam as várias facetas e paisagens daquele imenso país e… dos livros do Miguel Sousa Tavares, entre outros escritores. Faço jus ao ditado popular: «Quem não estuda e quer saber, ou passeia ou sabe ler!».
Continuo a ouvir o «luar do sertão» que incute em mim um feitiço de aventura e nostalgia, embrulhado numa maresia de saudade. É a magia do luar!

Carlos da Gama
                                      Fotos: Google Imagens

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