sexta-feira, 24 de junho de 2011

Liberdade ...

«I want to break free», é uma das fantásticas músicas que constituem a mística dos Queen e que, neste momento, ouço com prazer. E uns pensamentos repentinos misturam-se nesta emoção que a melodia faz despertar. Sobretudo, quanto à fragilidade que o conceito de liberdade encerra: que liberdade temos ou julgamos ter. O que é isso de ser livre, afinal?
É livre o homem que todos os dias acorda ao som do despertador, agastado por ter de cumprir a rotina casa-trabalho-casa que lhe tolhe a vida? É livre o que não dispõe dos meios imprescindíveis à sua sobrevivência?
São livres os progenitores que lutam, ingloriamente, pela recuperação do filho perdido nos perigosos emaranhados das dependências? É livre o desesperado que só consegue afogar no álcool as mágoas que lhe dilaceram a alma?
É livre o eclesiástico que, só por ter optado pela vocação religiosa, se vê obrigado a reprimir as naturais emoções e desejos carnais?
É livre o Sumo Pontífice que, sem o desejar, se vê eleito representante da cristandade e, como responsável máximo pela defesa do catolicismo, se obrigue a uma atroz rotina de santidade?
Que liberdade a daquele que, pela manhã, se distende pelas estradas para cumprir as rotinas que o sufocam e lhe comprimem a alma e, ao final do dia, regressar ao alvéolo de cimento suburbano, tal como as esforçadas abelhas na sua colmeia. E, no dia seguinte, retomar o mesmo desvario.
Que liberdade a da mulher que se vê forçada a tolerar as investidas de um companheiro, bruto de comportamento e despido de qualquer ternura de intimidade? Este pensamento traz-me à memória, tantas vezes, aquela cena, magistralmente executada na telenovela brasileira «Pantanal», em que um velho marido, mal disposto por natureza e desconhecedor do mundo de afectos, se dirige à sua jovem esposa, determinando-lhe: «Vá-se lavã que quero usá ocê!».
Ainda hoje sinto arrepios de repulsa e calafrio quando esta cena desperta na minha memória. Porque ela é o símbolo da enorme solidão que povoa demasiados casais em pretensa intimidade. E é, também, um sinal de que a liberdade tem ainda muito caminho pela frente.
Por tudo isto, eu tenho fundadas dúvidas que a liberdade seja possível existir em nós. Ela só seria possível na medida em que fosse um mero estado de espírito. Tenho, para mim, que só seremos livres quando nos decidirmos isolar de tudo e de todos. Mesmo aí permanecem dúvidas se conseguiríamos ser livres do nosso próprio destino.
Ao nascermos num contexto social com regras, a nossa vida fica condicionada ao seu cumprimento, sob pena de sofrermos as consequências de eventuais desvios. Daí que a verdadeira liberdade seja praticamente inalcançável. Por isso, mais do que compreender o grito de libertação da canção dos Queen: «I want to breack free», eu prefira encher os pulmões com o simples: «I want to be free»!
Carlos da Gama
                                      Fotos: Google Imagens

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