segunda-feira, 6 de junho de 2011

Pressa de viver!

Muitos dos que visitam este espaço virtual, devem sentir-se um pouco defraudados pelo rumo que o mesmo tomou até ao momento.
Pressupostamente dedicado a repositório de viagens em autocaravana, «estrada fora» tem sido parco em textos de confirmação desse objectivo.
Mas, em minha opinião, esta tese não é totalmente verdadeira. Em primeiro lugar, porque todos os textos aqui publicados são pretensas viagens de vida, um repositório de encontros e desencontros, de experiências vividas e de sonhos por concretizar.
Deixar que a imaginação se estenda, em liberdade, por contextos de vida ou aventuras de maresia, é viajar pelo tempo … sem tempo!

Desde que nasce, até que parte para uma outra dimensão, o homem é um ser em permanente viagem. Mas, também, é pertença da natureza, portanto, eminentemente composto de matéria. E, a acreditarmos no princípio da conservação da matéria, enunciado pelo cientista francês, Antoine Lavoisier: "na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, podemos almejar outras viagens para além das que experimentamos nesta curta existência.
Já deixei por aqui emoções de pequenas viagens efectuadas para o lado do mar. Porque é lá que me sinto mais em casa. É junto do mar que gosto de procurar perceber a razão desta passagem breve pela vida e, sobretudo, de sentir as emoções e as vertigens segregadas por um olhar mais longe ou descomprometido.

Adoro viver a monotonia do rumor do mar, admirar o pôr-do-sol em horizontes matizados, caminhar pelo espraiado contra o vento e sentir a serenidade a entranhar-se em mim quando a solidão se faz companheira. Sem dúvida, este imenso oceano transporta-me para horizontes de liberdade e de maresia. E aumenta a saudade de outras latitudes e de emoções guardadas em segredo, na cumplicidade do oceano e nas confidências da lua.
Mas há outras viagens vividas em frente da tela de um computador. Porque viajar é, acima de tudo, um estado de espírito e um espaço em que a imaginação veste-se de mágicos poderes.

Quase todos os dias viajo na companhia de autocaravanistas por vários continentes. Ultimamente, acompanho, com grande admiração, o casal «Estrela» nessa epopeia em que se tornou a sua «Rota da Seda». Serão oito meses de deslumbramento com os relatos da sua passagem por países quase impossíveis, convivendo com culturas ancestrais, por estradas sem condição, sujeitos a perigos vários como que a lembrar os nossos heróis quinhentistas na descoberta de «novos mundos ao mundo». Estou-lhes grato por me proporcionarem viver emoções fortes, quer despertadas por fantásticas paisagens de territórios inóspitos, quer por monumentos intemporais daquele extraordinário mundo desconhecido.

Sinto, também, uma especial predilecção pelas viagens que muitos autocaravanistas fazem pelo interior meu país. E é aí que constato que o «lá fora!» fica, tantas vezes, a uma enorme distância das excepcionais belezas do nosso território.
Viajar é, sem sombra de dúvidas, a minha praia favorita. Ao longo da vida, visitei vários países na companhia de uma pequena tenda de campismo. Mais tarde, os filhos ganharam novas preferências e foi o tempo de repousar, em instâncias de veraneio, o descanso de um ano de trabalho.
Muito recentemente, cumpri o sonho de juventude, com a aquisição de uma autocaravana. Tinha prometido a mim mesmo adquirir uma casa rolante quando se aproximasse o tempo de me desligar das rotinas laborais. Esse tempo está quase a bater à minha porta! Oxalá chegue logo em liberdade, porque tenho pressa de viver!
    
Carlos da Gama
                                      Fotos: Google Imagens

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