sábado, 25 de junho de 2011

Quando sopra o vento norte

Um dia destes, dei de caras com este livro na exposição de uma grande superfície comercial. De imediato, o título despertou-me a atenção. Talvez porque me transporta para contextos de sonho e magia. Vento e norte são, para mim, palavras vestidas de um misto de aventura e nostalgia.
De relance, desfolhei um sem número de páginas e busquei as emoções que o título fazia adivinhar estarem por ali. Trata-se de uma história de amor vivida praticamente através de e-mail e que foi atingindo uma forte intensidade emocional como se fosse vivida ao vivo e a cores.
O tema é um sinal dos tempos e só poderia ter nascido nesta era de vertigem a nível das tecnologias de comunicação e informação e da natural imposição destas no quotidiano dos cidadãos.
Ou seja, sendo de uma leitura agradável, a história, divertida e cativante, é quase banal nos tempos que correm mas uma impressionante inovação há pouco mais de dez anos atrás.
Ainda há uns meses assisti a um filme (com Tom Hanks e Meg Ryan), de idêntica roupagem, com o título «Mensagem para Você». Conta o romance de dois rivais no mundo dos negócios que se apaixonam, via internet, sem qualquer um deles saber da identidade do outro.
Mas, será possível que a paixão floresça apenas pelo contacto virtual? Sem dúvida. As palavras têm o condão de despertar a imaginação que, por sua vez, gera fantasias cheias de ilusão e sexualidade e que, não raras vezes, transformam-se em amor por parte de ambos os intervenientes.
É inquestionável que a informática proporciona-nos um fantástico mundo novo, que influencia fortemente o desenvolvimento de todas as actividades humanas.
E que permite ao homem poder sonhar com um futuro de grandes descobertas no campo científico e tecnológico que, em muito, poderá contribuir para a melhoria da sua qualidade de vida. Nomeadamente, a nível da vivência dos afectos e do despertar dos sentidos.
A troca de afectos por via electrónica, por exemplo, é já hoje tão facilitada e intensa como as cartas de amor do passado ainda recente. Com a vantagem da velocidade de comunicação possibilitar a recepção de mensagens no instante seguinte à sua redacção.

Quem se estende um pouco pelas redes sociais, que a internet tem de sobra, para além de contactos descomprometidos e de carácter mais lúdico e científico, outros existem mais orientados para a partilha de afectos, confirmando-se a tese de que é enorme a solidão que campeia na grande maioria dos casamentos «bem sucedidos».
Não era necessário que a internet me confirmasse este fenómeno.
Já o acesso da mulher ao mundo do trabalho, para além da independência desta, da revolução nos costumes e na gestão familiar, permitiu, de igual modo, uma relação quotidiana mais próxima com o sexo oposto e o consequente emergir de relações extraconjugais em grande escala. Fenómeno que a internet veio ampliar.
Num espaço virtual, no conforto do sigilo das chaves de segurança, que só o próprio tem acesso, tudo se torna mais facilitado: desde as simples e desinteressadas conversas, aos assuntos mais ousados e de maior intimidade.
É aí que muitos lavam a alma e denunciam, com maior ou menor interesse, e com mais ou menos verdade, uma vivência familiar de ausência de afectos e de rotinas castradoras de uma relação activa e sadia a nível da sexualidade. Daí à marcação de encontros fortuitos, em locais de mútuo segredo e propícios à libertação dos sentidos, vai um passo!
É inquestionável que a internet revolucionou a forma de comunicação entre as pessoas. E transformou-se num meio profilático de comportamentos, mais afoitos à solidão, por permitir que muitos consigam relacionar-se e despertar emoções que julgavam adormecidas.
E isto é importante que aconteça. Porque, como muito bem escreveu o escritor Raul Brandão, «A que se reduz, afinal, a vida? A um momento de ternura e nada mais. O resto esvai-se como o fumo!».


Carlos da Gama
                                      Fotos: Google Imagens

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