quarta-feira, 1 de junho de 2011

Aldeia global …

Estamos a viver um tempo em que o país definha a olhos vistos, quer a nível dos mercados, quer a nível social e político. Parece não mais querer endireitar este plano inclinado que tem esgotado as energias dos mais crentes. Sempre a esperança surge como uma luz que se imagina estar ao fundo do túnel. Mas, desta vez, todos percebemos que as coisas estão muito feias.
A crise económica, que lançou Portugal numa espécie de caos social, tem vindo a fazer vitimas entre a camada mais jovem da população, com ou sem formação superior.
E um país que não dá a devida atenção aos jovens será sempre um país adiado. Porque deles depende o futuro do funcionamento das instituições, do equilíbrio económico-financeiro da sociedade, da evolução qualitativa do estado social e, enfim, de um projecto de sociedade com bases estruturais consistentes.

Há umas semanas atrás, assistimos a uma gigantesca manifestação da auto-denominada «geração à rasca», maioritariamente composta de jovens que sofrem de uma brutal precariedade no trabalho ou, mais grave ainda, de uma situação de desemprego que parece não ter mais fim!
Tratou-se de um gesto pacífico de revolta de uma das gerações melhor formadas de sempre a nível académico, mas que não consegue antever a luz ao fundo do túnel das suas vidas. E cujo desespero acaba por resvalar para uma patética acusação da geração dos seus pais, como aquela que teve a vida facilitada quando tinham a idade deles.
Nada mais injusto. A geração dos progenitores, dos que hoje se debatem com a falta de saídas profissionais, foi das mais sacrificadas de sempre. Viveram uma infância de generalizada pobreza e foram obrigados a abandonar o seu país para lutar, nas matas de África, por uma guerra injusta.
Outros tiveram que emigrar, quer para fugir à guerra, quer, sobretudo, para conseguir um emprego que lhes garantisse o mínimo de dignidade. A grande maioria dos que regressaram da guerra, rumaram para outras latitudes e continentes para conseguir um trabalho digno e que lhes proporcionasse um rendimento justo.
Os que decidiram ficar tiveram que concorrer, no campo do emprego, com centenas de milhares de retornados das ex-colónias africanas. Tudo foi muito difícil.

Pelo contrário, a chamada «geração à rasca» usufruiu de uma infância e uma adolescência com acesso a tudo que o mundo moderno oferece. Nada lhes era ou foi negado. Lembro bem o desabafo de muitos relativamente aos filhos: - dou-lhes aquilo que eu não tive!
A evolução tecnológica proporcionou aos jovens uma qualidade de vida como nunca outra geração tinha obtido. Daí que hoje se sintam defraudados numa expectativa de vida para a qual não estavam minimamente preparados.
Sou dos que consideram que os jovens têm toda a razão em manifestar a sua indignação e desconforto. Mas, tal como os seus familiares, no passado, também eles têm que alargar os seus horizontes de vida. As oportunidades procuram-se: ou no país ou fora dele.
Nos anos 50 ou 60 do século XX, os jovens tinham que rumar a Lisboa, Coimbra ou Porto para poderem frequentar o ensino superior. Como as comunicações eram precárias, permaneciam por lá nos meses de estudo regressando a casa nos períodos de férias. A viagem de Coimbra a Braga demorava mais tempo do que hoje a viagem de Londres, Helsínquia, Paris ou Munique a Braga.
Num tempo em que o mundo se transformou numa aldeia global, sem longe, fronteiras ou distâncias, e as comunicações estão muito facilitadas, pouco importa que o trabalho se faça onde nascemos ou a umas centenas ou milhares de quilómetros de distancia. O mais importante é a determinação em se construir um projecto de vida. E ser dono do nosso próprio futuro!

Carlos da Gama
                      Fotos: Google Imagens

Sem comentários:

Enviar um comentário