terça-feira, 21 de junho de 2011

Saudades de água fresca …

Chegou o estio e, com ele, o calor das tardes longas e das noites mornas. É a estação que encurta e dá mais colorido às roupagens que usamos. É o tempo em que aumenta o prazer de uma bebida fresca.


Este é o tempo em que as noites são mais intensas e a terra mais generosa.
É nesta altura que nos abandonamos à imaginação e partimos à conquista de uma aragem mais fresca nas frondosas matas deste país ou nas praias do imenso oceano que nos cerca.
É o tempo de saciar a sede nas águas cristalinas das fontes da minha aldeia.
Este é o tempo que mais frequentemente me trás à memória a estadia na tórrida Guiné e nos hábitos que lá adquiri. Não esqueço que foi lá que me ficou o prazer do sabor agridoce do whisky bebido nas noites esquecidas pelo jogo do king ou da sueca.
Era lá que o leite mais pesava nos inúmeros bolsos da farda, quando o patrulhamento pelas matas secava severamente a garganta. Em mais nenhum período da minha vida eu bebi tanto leite enlatado, oriundo dos prados da Dinamarca e da Holanda.
Mais do que o prazer da sua bebida, era a prevenção de doenças tropicais que eu acautelava.
A água da Guiné carecia sempre de ser purificada para ser bebida e o seu sabor não seduzia vivalma. Lembro que, várias vezes, em plena mata, enchi o cantil de água corrente, colocando farrapos de algodão no gargalo para reter as impurezas visíveis, após o que introduzia dois comprimidos de desinfectante.
Ao beber aquela água, tinha que apertar o nariz para diminuir o intenso cheiro e sabor a lixívia. E não esqueço os milhares de vezes que sonhei acordado com a fonte de águas frescas e cristalinas que jorrava muito próximo da casa dos meus país.
E, lá nas matas da Guiné, jurei a mim próprio que, no regresso da guerra, primeiramente, haveria de saciar a saudade com a água fresca daquela fonte e só depois é que iria receber os abraços dos meus mais queridos.
É claro que não foi assim que aconteceu. Quando abandonei o táxi, que me transportou de Lisboa, corri para os afectos dos familiares mais próximos para partilhar as emoções de saudade que há muito retinha na alma. A fonte de água fresca ficou para segundo plano.
                Carlos da Gama
                                         Foto: Google Imagens

1 comentário:

  1. Só damos verdadeira importância e valor às coisas quando deixamos de as ter.

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