terça-feira, 28 de junho de 2011

Silêncio …

Sinto a comoção ao rubro quando uma melodia atinge-me o coração, aprisiona-me a alma e inspira-me intensamente. Quando uma cantiga tem o condão de me fazer sonhar, de imaginar outros contextos e de sentir outras vertigens, … fico com uma gratificante sensação de tranquilidade.
Depois, … bem, depois, segue-se um sem número de audições até que permaneça a vontade de a saborear durante muito, muito tempo!

A balada de Maria Guinot – «Silêncio e tanta gente» –, levada ao festival da Eurovisão no ano, já longínquo, de 1984, faz parte das melodias que não me canso, jamais, de ouvir. A letra cativa e inquieta. A música enche-me de nostalgia e saudade.
Nostalgia, porque ela contém uma sonoridade melódica que arrepia a alma. E a voz de Guinot empresta-lhe uma suave harmonia à mensagem. Depois, a estrofe «E troco a minha vida por um dia de ilusão» é um fantástico hino ao amor e à primazia da ternura no contexto da vida de cada um de nós.
Estou em crer que Maria Guinot quis solidarizar-se com o grande escritor português, Raul Brandão, que, magistralmente, deixou escrito: «compreendi que a nossa vida é, principalmente, a vida dos outros... Melhor: compreendi que a ternura era o melhor da vida. O resto não vale nada!».

Para além disso, considero o «Silêncio e tanta gente» uma ode ao silêncio, tão necessário nos tempos que correm. É no silêncio que conseguimos sentir a alma e olhar mais longe a razão da nossa existência. É no silêncio que percebemos melhor o sentido da vida e perscrutamos, com maior nitidez, os horizontes que ambicionamos alcançar.
O silêncio é a minha praia favorita. E é lá que também «descubro as palavras por dizer» com um prazer que me preenche a vida.
Pode ser um silêncio acompanhado pelo resmungar do mar, quando enfrento o vento para o encarar de frente. Pode ser um silêncio feito de som e espuma das águas revoltas que castigam o espraiado onde o mar teimosamente se extingue.
Pode ser um silêncio com horizontes de cores tardias que se revelam para melhor se compreender a lonjura do que se quer mais perto. Pode ser um silêncio feito de maresia, onde se respira a saudade e se enchem os pulmões de outros ventos e marés. Pode ser um silêncio …

«Silêncio e tanta gente», da Maria Guinot, tem o condão de me levar para estádios de alma em que me esforço, em vão, por compreender os destinos desta existência tão breve. Mas é também uma cantiga prenhe de esperança que me enternece e faz sonhar.
São raras as mensagens musicais que nos transportam sonho, luz e magia. E quando uma balada desperta o sonho, como esta da Maria Guinot, ela atinge, em pleno, o objectivo mais nobre de uma cantiga. Pois, somos resultado de um sonho e percorremos a vida perseguindo vários sonhos. Tal como escreveu António Gedeão: «o sonho comanda a vida». Quando assim não for, a vida deixa de ter sentido, não sendo mais preciso o silêncio!

Carlos da Gama
                                      Foto: Google Imagens

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