sábado, 18 de junho de 2011

Década de ouro !

Apetece escrever, neste início da manhã, ao ouvir o magnífico poema e a não menos bela melodia: «Amélia dos olhos doces».
Uma das mais lindas canções que ouvi na voz de Carlos Mendes, que conta o destino forçado de uma gaiata, «com nome de navio», que vende o seu corpo de amor lá pelo Cais do Sodré.

Esta canção transporta-me para tempos e espaços de outrora. Faz-me sentir o cheiro de uma adolescência de sonhos plenos de platónica magia e das certezas que tinha em os concretizar. Tempo de fermentação de ideais, de expectativas de vida e de horizontes sem nome, foi nele que vivi a doce ilusão dos primeiros amores furtivos.
Foi, também, o tempo político e social em que tudo era questionado e em que ganhou força libertária o lema panfletário, feito horizonte de esperança, «make love not war». Estávamos na década de sessenta do século XX.
Para além de uma certa inquietude pelo tempo que passa, sinto-me um privilegiado pelo facto de ter vivido um tempo em que quase tudo aconteceu. Foi nessa década que surgiram os beatles que revolucionaram a música pop e influenciaram fortemente os costumes. Foram uma gigantesca força da natureza!
Foi, também, a década em que o mundo mudou por força das revoltas estudantis de França, cujo espírito se espalhou um pouco por todo o mundo, à semelhança com o que tinha acontecido, duzentos anos antes, com Revolução Francesa. Foi nesse tempo que Portugal viu nasceu e morrer a esperança de uma primavera marcelista e os jovens do meu país ou emigravam clandestinamente ou eram levados para uma das três frentes da guerra colonial em África.
Mas foi também um tempo de descoberta. Em que o homem cumpriu o sonho de caminhar na lua. Em que estação quente era marcada pelos bailes de garagem ao ritmo dos sons vindos de longe. O tempo em que, com a minha guitarra, acompanhava, com alguns acordes, as liturgias num santuário católico de Coimbra. Um tempo em que tinha a vida toda pela frente e a inquietude de um futuro de grandes incertezas.
Um tempo em que o mundo das cantigas estava prenhe de mensagens revolucionárias. Em que ouvia os discos dos Beatles, dos Bee Gees, do Elvis, do Neil Diamond, do Adamo e do Gianni Morandi, entre outros, trazidos pelos jovens emigrantes regressados para umas férias de um ano de trabalho.
E em que carreguei, vezes sem conta, as máquinas de vinil dos bares para sonhar, repetidamente, com a Jane Birkin a cantar o «Je t’aime moi non plus», em parceria com o Serge Gainsbourg. Porque esse foi, sem dúvida, o tempo das minhas primeiras paixões amorosas e da timidez que tomava conta de mim ao ensaiar os primeiros passos na arte da sedução.

Carlos da Gama
                                      Fotos: Google Imagens

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