quarta-feira, 22 de junho de 2011

Outros tempos …

Ainda se lembra das vertigens que sentia na aproximação a uma garota. O embaraço tomava conta dele, no preciso momento de agir, a ponto de perder algumas oportunidades de encontros.
Um dia, perseguiu uma linda jovem estudante, durante algum tempo, pelas ruas da sua cidade. Quando se aproximava mais dela, a coragem soçobrava e, na hora certa, optava por dirigir o olhar às vitrinas das lojas de comércio para iludir o acanhamento.
E nem a espera que a garota estrategicamente fazia, para lhe facilitar o encontro, incutia nele a coragem necessária para balbuciar um simples «olá!». Coisas de principiante! A audácia veio mais tarde, quando a experiência fez caminho.
Num domingo de verão foi, com dois amigos, para uma festa popular duma vila das proximidades. Estavam todos com a idade de «passar de pito para galo», vivendo uma adolescência despreocupada e em que apenas os estudos liceais exigiam mais atenção. Porque não há festa sem engates, mal avistaram um grupo de miúdas giras, passaram ao ataque. A tarde parecia ganha!
O Hilário, o jovem mais ousado, fez questão de se adiantar na aproximação à rapariga mais atraente, precisamente, aquela que o seu coração, num lampejo de emoção, tinha escolhido e apressado o batimento.
Sentiu-se desconfortado ao ver a forma insistente como o amigo procurava captar a graciosidade da menina. E teve de se contentar com uma outra garota do grupo, embora a atenção continuasse colada à eleita dos seus olhos.
No regresso a casa, não apreciou o atrevimento do Hilário quando, animadamente, este confirmava que haveria de a namorar, acreditando que tinha ganho o seu afecto. Sofreu, em silêncio, o vexame de ter sido ignorado.
E mais desanimado ficou quando viu o papel, que o Hilário exibiu com expressiva vaidade, onde constava o nome e a morada daquela princesa. Convenceu-se que os olhos esverdeados do seu companheiro tiveram um papel fulcral na sedução da menina, linda de morrer!
No dia seguinte, no intervalo das aulas, o Hilário colocou-lhe nas mãos um envelope fechado, devidamente selado, e pediu-lhe que o depositasse na estação dos correios. Foi solicito ao seu pedido, como que avinhando o destino.
Daí que não se surpreendesse ao constatar que a missiva era dirigida à garota da sua devoção. Não se fez rogado e deitou as palavras do Hilário no primeiro caixote de lixo que encontrou, substituindo-as por outras ainda mais sedutoras, escritas pelo seu punho.
A felicidade foi bem maior quando, poucos dias após, recebeu, na volta, o assentimento para um encontro que foi o início de um namoro tórrido que só terminaria uns meses mais tarde.
Quando soube da conquista do seu amigo, o Hilário ficou um pouco surpreso, sem imaginar, contudo, a traição de que tinha sido alvo. Limitou-se ao desabafo: - Caramba, pá! Ela não ligou à carta que lhe enviei. Escolheu ficar contigo: sorte tua!
Essa foi uma partida de que nunca se arrependeu. Porque, sabia bem que, como reza o ditado, «Na guerra e no amor tudo é permitido!».

                Carlos da Gama
                                         Foto: Google Imagens

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